Crianças costumam ganhar brinquedos e roupas em datas festivas. Eu sempre preferi os brinquedos, e vez ou outra também era presenteado com um livro. Eram daqueles livros com grandes figuras e pouco texto. Na mesma época, todo fim de semana, minha mãe me levava à banca de revistas e comprava um gibi do Chico Bento. O personagem favorito dela sempre foi o Chico, que passou a ser o meu favorito também.
Update: Boa Chico! |
O tempo passou e por algum motivo, durante a faculdade de Ciências Biológicas, senti vontade de reler o primeiro livro que me marcou. Acho que foi porque me lembro de sentir algo diferente, talvez pelo tema, pois era um livro sobre a morte. Então, no fim de semana fui à minha casa, que ficava a mais de 200 Km de distância da cidade onde morava, com muita vontade de encontrá-lo. A meu favor, a lembrança de um cisne branco na capa. Ao abrir o "armário das coisas antigas", em pouco tempo encontrei um livro grande e branco. Não havia um cisne na capa, mas um ganso, com um grande título em vermelho: ”A Montanha Encantada dos Gansos Selvagens”. Fiquei feliz em dobro quando me dei conta de que o autor era Rubem Alves, uma pessoa muito querida, que conheci nos meus “estudos amigodidatas” (estudo autodidata com amigos!) sobre educação.
"Cheiro-de-jasmim" voando... Livro novo aqui, ou usado aqui |
Recomendo este livro para quem gosta de educação. Descobri nos "estudos amigodidatas". Usado aqui ou novo aqui |
O livro ainda trazia uma dedicatória com a assinatura do autor: “Para Thiago, abração do Tio Rubem”. Reli o livro e fiquei com a mesma sensação de quando era criança: um nó na garganta. É mesmo um livro muito bonito.
Rubem Alves, o "Tio Rubem". Para saber de onde tirei o título deste texto, clique aqui. Outra linda crônica que fala sobre o mesmo tema aqui. |
No meu caso, não foi a escola quem me despertou o prazer pela leitura mas, de modo geral, os professores exercem papel fundamental no incentivo à leitura para as crianças. De acordo com o Instituto Pró-Livro, em uma pesquisa publicada no mês passado, os professores e as mães estão praticamente empatados como principais influenciadores na criação do hábito da leitura. O pai não possui nem metade da influência da mãe, porque as mulheres em geral leem mais do que os homens, e porque as mães leem com maior frequência para seus filhos, dentre outros fatores. De forma preocupante, a pesquisa mostra que a média de livros lidos por pessoa também diminuiu de 4,7 livros por ano, em 2007, para 4,0 livros por ano em 2010 (sendo dois inteiros e dois pela metade!).
Download dos principais resultados da pesquisa aqui Site do Instituto Pró-Livro aqui |
Além da diminuição de livros lidos por ano, houve uma diminuição na quantidade de pessoas que gostam de ler jornais, revistas, livros e textos na internet no seu tempo livre – de 36% em 2007, este número diminuiu para 28% em 2010, e curiosamente, para o mesmo período, houve um aumento na quantidade de pessoas que gostam de assistir televisão – de 77% aumentou para 85%.
Que tal? |
A diminuição de interesse pela leitura não é um problema enfrentado apenas pelo Brasil. Segundo uma pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o percentual de estudantes de 15 anos – especialmente os garotos – que leem diariamente pelo prazer diminuiu na maioria dos países desenvolvidos entre 2000 e 2009. A cada três anos, a mesma organização promove a principal avaliação internacional de estudantes, abrangendo 67 países, inclusive o Brasil, no chamado Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA). Interessantemente, a diferença entre os estudantes que apresentaram bom e mau desempenho nesta avaliação não encontra-se relacionada ao tempo gasto com leitura, mas sim ao hábito de ler diariamente por prazer.
Para acessar a pesquisa, clique aqui |
É inegável o papel da leitura no desenvolvimento cognitivo e social de um indivíduo. Das pessoas que já receberam livros de presente, 88% afirmaram que isso foi importante para despertar o gosto pela leitura (Instituto Pró-Livro, 2012). Que tal dar um livro na próxima vez que tiver de dar um presente a alguém? Se não ganhasse de presente alguns livros quando pequeno, ou se minha mãe não gostasse do Chico Bento, não seria tão feliz quanto eu sou, pois eu provavelmente deixaria de “fazer amor com as palavras” (pra usar a frase do “Tio Rubem”) com tanta frequência. Resta agradecer: obrigado mãe.
Ah, e feliz dia das mães =) |
Thiago Baptistella Cabral, biólogo e educador, escreve a convite do
Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE), que publica artigos de opinião no jornal Diário de Natal às sextas-feiras. Texto publicado em 11/05/2012
Obs: para ler o texto no site do jornal Diário de Natal, clique aqui (é o texto de baixo).
Obs: para ler o texto no site do jornal Diário de Natal, clique aqui (é o texto de baixo).
Parabéns, filhão, show de homenagem!
ResponderExcluirParabéns Thiago, o texto é a pura verdade, a homenagem se encaixa com o texto e o título ficou perfeito. Abração.
ExcluirEdhuardo
Lindo Thi! Parabéns... tbm lembro dessas idas à banca e da revista de quadrinhos...linda homenagem! Bjss
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